Você leva sua vida como Judas ou Pedro?!

Oi gente!!


Sábado de páscoa com um dia maravilhoso aqui no Recife e Região Metropolitana. Nossa, fazia tempo que eu não via um dia e uma noite tão belos como os de hoje. Um verdadeiro presente de páscoa pra gente aqui. E esse dia belo me trouxe também uma sensação de alegria muito grande, mesmo passando parte do dia "ensaboando no tanque". 

Desde quinta-feira que venho "matutando cá com os meus botões" sobre esse negócio de páscoa. Fico vendo a correria do povo pra viajar, pra comprar peixe, ovo, bredo, fazer comida, cumprir agendas obrigatórias, enfim. E percebo pouco ou quase nenhum comentário sobre a simbologia desse período. Em anos anteriores, em outros textos que escrevi, já coloquei diversas vezes minha visão sobre quais referências esse período me traz acerca do homem chamado Jesus. 

E antes que você fique pensando que "vou fazer proselitismo religioso" peço-lhe um pouquinho de paciência pois, não é esse meu objetivo com esse post de hoje. Na verdade, estou aqui para falar sobre a importância do auto perdão e vou usar dois personagens para exemplificar isso, são eles Pedro e Judas.

No período da Páscoa são relembrados os últimos momentos da vida do Cristo, desde a última ceia com os apóstolos até a ressurreição. Volto a dizer que há muito mais para se pensar ou refletir nesse período, do que simplesmente ficar "cultuando" a imagem de Jesus ensanguentado e todo quebrado na cruz. Há em todo o seu entorno inúmeras, diversas histórias e nuances que merecem nossa atenção e uma delas é a forma como esses dois homens, Judas e Pedro, reagiram aos erros que cometeram.

Judas, como você bem deve lembrar, vendeu Jesus para os romanos por 30 moedas de ouro. Pedro, ao contrário, não entregou o Mestre para ser crucificado, mas negou-o por três vezes mesmo dizendo que nunca faria isso. Talvez você olhando essas duas situações diria: mas o crime de Judas foi muito pior do que o de Pedro, pois ele entregou Jesus para ser morto!!

Pois é. Olhando "assim por cima" certamente o erro de Judas aparenta ser mais grave, porém, o que devemos levar em consideração é "o que estava por trás", o que motivou esses dois corações a cometerem os erros e, mais importante ainda, qual a capacidade que cada um possuía de administrar, digerir, esse equívoco. Porque, o que para mim pode parecer uma besteira, algo banal, para o outro pode ser algo danoso, imenso, de um peso muito grande, algo indesculpável, imperdoável.

Tanto Judas, quanto Pedro, em nenhum momento foram recriminados por Jesus, criticados ou excluídos do Seu amor, mesmo Ele sabendo com antecedência que tais fatos se sucederiam. Jesus sabia das ambições de Judas, de que ele não O via como um semeador de amor, de uma mensagem diferente. Na verdade, Judas esperava o grande Messias, o libertador do povo judeu, aquele que os livraria do jugo romano através da espada, da violência. Ele não entendia que a libertação que o Mestre faria não se daria pela força física, mas sim, pelo emponderamento emocional que Ele facultava a quem O ouvia com mensagens sobre o reino de Deus, sobre a justiça para quem ama, sobre a transitoriedade da matéria. E por isso, Judas entregou Jesus aos romanos na expectativa de que aquele homem poderoso que fazia curas milagrosas, fizesse descer "os anjos do céu" e com seu exército libertasse o povo judeu. Mas, Ele surpreende-o ao se deixar prender de forma pacífica, ao não revidar a agressão, a violência de que era alvo. Ao ver o que tinha feito, ou seja, mandado o Mestre para a morte, Judas enlouquece de dor e tamanho é o seu sentimento de culpa que ele se mata, se auto destrói. 

Pedro, depois que vê Jesus sendo preso, foge e vai acompanhando o sofrimento do Mestre e amigo de longe, deixando seu lado humano, sua sombra, falar mais alto. Ele se amedronta com a possibilidade de também ser detido, açoitado e crucificado. Por isso, quando lhe perguntam se ele também seguia à Jesus de Nazaré, Pedro nega veementemente até que, após a terceira negativa e o cantar do galo, ele se lembra do que o Amigo havia dito na última ceia: "antes que o galo cante, tu me negarás três vezes". E ele, Pedro, na impetuosidade que lhe caracterizava o agir, havia dito que jamais faria isso. Após o cantar da ave, o apóstolo encontra o olhar amoroso de Jesus que, mesmo em sofrimento, que não o recrimina, não o acusa, apenas lhe endereça compreensão pela fraqueza do amigo. E Pedro chora. Foge em desespero e chora copiosamente a sua dor, a sua vergonha, o seu sofrimento. Mas, ele pega aquele erro e o usa como um trampolim para mudar tudo em sua vida.

Aqui chego ao foco desse meu post: a diferença com que Judas e Pedro gerenciaram seus erros. 

Judas não aguentou o peso. Rígido moralmente que era, ele não teve resiliência* suficiente para administrar a pressão que o seu campo psíquico gerou com a consciência do equívoco. Ele não usou consigo da auto compreensão, da auto indulgência, do auto amor. Pelo contrário, fixou-se na culpa, no remorso, e com isso gerou uma energia tão danosa, tão pesada para si mesmo, que o caminho que encontrou para tentar buscar alívio foi o auto aniquilamento. Ele não soube aceitar sua falibilidade e usar o erro para mudar, para crescer. Ele não soube compartilhar a sua dor com o outro, fechou-se em si mesmo. 

Já Pedro também desaba sobre si mesmo num sentimento de dor profunda por ter negado ao Homem a quem ele seguia e amava como um pai. Mas, ele não se deixa levar pela culpa que paralisa, pelo remorso. Pedro se arrepende!!! Ele reconhece que errou, analisa o que fez e toma uma decisão: ia se redimir perante sua própria consciência dedicando o resto de sua vida para manter viva a mensagem do Mestre que ele negou. O pescador, mesmo sendo intelectualmente mais humilde do que Judas, mas emocionalmente era mais rico em resignação, flexibilidade, compaixão, empatia, aceitação de si mesmo. Pedro aceita sua falibilidade, reconhece-a e a supera com novas atitudes e novos comportamentos que mudariam para sempre sua maneira de ser e de agir. Ele usou um momento de "vacilo", de fraqueza, para se tornar alguém mais forte ao ponto de não fugir de novo na hora do novo testemunho pedindo para ser crucificado "de cabeça pra baixo", pois "não merecia morrer como o Mestre". E foi graças a essa capacidade de ser resiliente, que Pedro deu continuidade ao trabalho de amor iniciado por Jesus.

Meu objetivo com o resgate dessas duas histórias de vida é fazer com que você, que me lê nesse momento, pare para pensar: como tenho me comportado diante dos erros que cometi ou cometo nessa existência? Como Judas, me culpando eternamente e me condenando a um inferno, a um castigo sem remissão?! Ou como Pedro reconhecendo meu erro, me arrependendo verdadeiramente, tirando dele o ensinamento que preciso para não mais cometê-lo e construir uma vida mais plena e mais feliz com novas atitudes?!

Saiba que a resposta a essa pergunta pode alterar para sempre o rumo de sua vida, porque se você se vir como Judas vá imediatamente em busca de ajuda para sair desse ciclo vicioso, antes que destruas a si mesmo. 

Lembre-se que a mensagem deixada por Jesus foi de perdão, recomeço e alegria sempre. Sua palavra foi toda de esperança de dias melhores para aqueles que descobrissem o caminho do amor. E a gente só pode descobrir o amor, quando descobre também o amor a si.

Desejo sinceramente que nessa Páscoa aqueles que "pregaram-se voluntariamente" na cruz da culpa e da auto destruição, encontrem a saída e voltem a trilhar o caminho da luz e da alegria. Já dizia o Mestre de Nazaré: "bem aventurados aqueles que são misericordiosos, pois obterão misericórdia". E a primeira pessoa com quem temos que ser misericordiosos é conosco mesmo!!!

Bjs e boa páscoa para você.

*Resiliência: capacidade de lidar com problemas, superar obstáculos ou resistir à pressão de situações adversas - choque, estresse etc. - sem entrar em surto psicológico

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