O valor de um olhar.

Oi gente!
Esse tempinho chuvoso que tá fazendo aqui no Recife nesse nosso "inverno brando" dá uma vontade danada de ficar em casa, pensando na vida. Hoje tivemos uma trégua e o dia tá bom para quem quer dançar um forrozinho. O céu tá lindo de se ver.


Pois é. Estou eu aqui desde o início da semana matutando (pensando, em nordestinês) aqui com meus amigos Abreu e Barromeu (meus dois neurônios) sobre a forma como um olhar fala. Isso mesmo.


Como o olhar é "falador", "dedo duro", "cabueta", "fofoqueiro" e "fuxiqueiro"!! Ele conta pros outros aquilo que queremos esconder até da gente mesmo. Isto porque, como diz a célebre frase, "os olhos são o espelho da alma". E o são.


Você pode querer fazer de conta que tá tudo bem, que nada está acontecendo, mas seus olhos lhe entregam. Eu gosto muito de observar os olhos e as feições das pessoas. É uma mania ou costume que possuo há bastante tempo. Talvez por eu também ser muito transparente (quando não tô bem, não consigo esconder de todo), acho que isso facilita minha percepção acerca das outras pessoas.


Esta semana vi o vídeo de um amigo meu, pessoa extremamente querida ao meu coração. E, confesso, me choquei. Me choquei com o que vi ou deixei de ver em seus olhos.


Ali num momento que deveria ser de alegria eu via alguém que mostrava com o olhar que estar ou não naquele lugar, naquele momento, não faria a menor diferença para ele. É como se ele apenas "estivesse cumprindo tabela". Não vi vida, não vi brilho no olhar, não vi alegria. Só vi apatia, tristeza, uma coisa opaca. E se tem uma coisa que ele tem de belo é o olhar.


Aquele olhar me tocou bastante. Me lembrei de mim.
Teve um período da minha vida em que eu estive bem assim, meio morta por dentro, e isso se refletia nos meus olhos. Tenho uma foto do meu aniversário nesse referido ano e, confesso, tenho um certo incomodo quando a vejo, pois apesar de estar "com um arremedo de sorriso nos lábios", os olhos "choravam sem deixar cair lágrimas". Não é uma sensação agradável. É ruim... 


Vez em quando a gente passar por esses momentos de "olhar morto". Significa que quem está sem brilho, na verdade, é a nossa alma. Que algo lá dentro tá minando nossa alegria de viver.


Mais estranho é você sacar isso. Isso já aconteceu com você que, não tendo coisa melhor pra fazer, tá lendo essas minhas "mal traçadas linhas"?! Você já olhou para uma foto sua que foi tirada há algum tempo e conseguiu fazer essa leitura de si mesmo (a)?


Pois é, os olhos são delatores das nossas emoções.
Tem gente que tá com ódio do outro. Encontra e sorri com os lábios, mas "metralha o seu alvo com o olhar".
Tem gente que tá com inveja do que o outro é ou tem, e destila isso no olhar.
Tem gente que tá ruminado raiva e mágoa do outro e, o olhar o entrega.
Tem gente que tá angustiada, aperreada e o olhar demonstra na horinha.
Tem gente que carrega sentimentos de culpa e remorso e, coitado do olhar, não consegue emitir outra coisa que não seja desalento e dor.


É, os olhos realmente são o espelho da alma.


Mas também tem olhares que só falam de alegria.
Tem olhar que brilha tanto que parece um brilhante incrustado no rosto da pessoa.
Tem olhar de carinho quando a gente encontra alguém de quem muito gosta.
Tem olhar de doçura quando a gente vê uma cena encantadora como uma criança sorrindo ou brincando inocentemente.
Tem olhar de felicidade quando a gente reencontra alguém que a muito tempo não via.
Tem olhar de gratidão quando a gente recebe a compreensão e o apoio de alguém.
Tem olhar que é deslumbramento puro quando a gente olha a beleza do nascer e do por do sol, a grandeza do mar, o colorido das flores, o voar dos pássaros, o passeio das nuvens, a sedução da lua.


Tem também o olhar de saudade. 
Rubem Alves diz em uma de suas obras* que: "a saudade é o bolso onde a alma guarda aquilo que ela aprovou e gostou". Tô com ele!
Tem olhar de serenidade, naqueles que já alcançaram a sabedoria e compreensão da vida.


Mas tem um tal de um olhar que... esse é especial.
É um olhar que só quem já passou por ele vai entender o que estou falando.
É o olhar que encontra o outro. Onde naqueles pequenos segundos é como se você estivesse reencontrando alguém há muito tempo conhecido e esperado. É um olhar de reconhecimento.


Esse é simplesmente indescritível. Parece um mergulho.
Ele acelera o coração, ilumina os olhos, aquece a alma. É uma interação tão grande que não se precisa falar nada: os olhares já sabem o que um e outro estão querendo dizer.
Ele simplesmente te liga a uma outra pessoa sem que percebas. Pronto. Está feita a conexão!


Esse olhar é raro e é único.


E que bom que a vida nos permite tantos olhares, pois podemos aprender com todos eles.
Deveríamos colocar como rotina em nossa vida a análise do nosso olhar diariamente, para aprendermos sobre os nossos reais sentimentos e emoções. Acho que seríamos "menos doidos" e mais lúcidos e felizes.


Lembre-se: a forma como você olha o mundo diz mais sobre ti do que mil palavras!
Pense nisso!!
Um ótimo fim de semana.
Xanda


* Do livro: Concerto para corpo e alma, Editora Papirus.

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