Você anda com morto bom ou morto ruim?!


Oi gente!
Ufa, chegamos a mais um final de semana, que delícia!!!

Resolvi passar por aqui rapidinho porque hoje (sexta-feira), quando eu estava folheando um livro que adoro do Rubem Alves na Livraria Cultura, do Recife, me deparei com um texto que veio ao encontro de algo que ando pensando esses dias. O livro chama-se "O Amor que acende a Lua" (já sabem porque gosto dele né?!) e o texto tem como título "O cemitério".

Calma!!! Nada de pânico que a leitura dele não é nada mórbida, pelo contrário.

O texto se refere aos tipos de defunto ou mortos que existem: os defuntos bons e os defuntos ruins. Importante ressaltar que ambos não têm nada a ver com o "aspecto moral do moribundo", mas sim, com a forma como eles ficam gravados em nossa memória.

Na concepção do autor os dois tipos significam o seguinte:
"Morto bom é morto que fica morto, enterrado, ou seja, não sai da cova. Vai para o outro mundo e fica por lá. Dele aqui só fica a saudade. (...) Morto ruim é morto que, uma vez morto e enterrado, se recusa a ficar na cova. Morto ruim não se conforma com o outro mundo. Quer continuar morando com os vivos. Mas como ele não está vivo, fica se esgueirando pelas sombras, andando durante a noite. São "assombrações", sombras que dão medo." (...)

Adoro metáforas bem construídas e essa foi direto ao encontro do que ando matutando.

Os mortos aos quais Rubem Alves se refere são as coisas que acontecem e que vão marcando nossa vida, nossa trajetória. Quando as situações são vivenciadas em sua totalidade e tiramos delas lições que nos ajudam a avançar, elas ficam bem resolvidas dentro de nós. Vamos lembrar de algo, de alguém, com saudade ou carinho, relembrando os bons momentos e aprendizados. Esse "morto" reaparece mas não nos causa medo, pelo contrário, vamos ficar felizes por reencontrá-lo.

Entretanto, existe defunto que por mais que a gente ache que ele tá "morto e enterrado", e que estamos livres dele, o dito cujo fica voltando para "assombrar a nossa vida". São as histórias que deixamos mal resolvidas ao longo do caminho, ou das quais fugimos com o objetivo de não sentir dor, ou que foram traumáticas para nós. São medos, culpas, recalques, carências. Em alguns, esses "defuntos" são mais mal cheirosos, pois eles fedem à mágoa, ódio, raiva, rancor e quanto mais tempo permanecem "entocados no cemitério da nossa mente", mas decompostos e "malassombrados" eles ficam. Aff ...

Esses dias eu meditava em "quantos mortos" a gente tem dentro de si e nem se apercebe.

Muitas vezes só vamos descobri-los quando eles, rebeldes e afoitos, começam a se rebelar dentro de nós e ficam querendo aparecer feito uma "assombração". Poderia comparar essa situação com aquele clip musical que fez um estrondoso sucesso na década de 80, o Thriller, do Michael Jackson (desculpa ai, mas só vai lembrar quem viveu aquela época, tá?!). De repente, um monte de "mortos-vivos" começa a sair das tumbas e a assustar a mocinha do clip.
Pois é.

Em nós esses mortos "mal sepultados" ficam ali, latentes, presentes, com cara de bem enterrados mas só esperando uma deixa para "nos assustar" também. E quando o cemitério tá com super lotação e precisando "desocupar as catacumbas para esvaziar a pressão" (tipo os cemitérios do Recife...), a gente começa a sentir os efeitos dessa necessidade: uma angustia sem explicação, um desânimo, algo que parece que tá querendo gritar dentro da gente e que não conseguimos identificar o que danado é. Uma depressão aqui, uma síndrome de pânico ali, um derrame por lá também são outras formas dos fantasmas, esses mais radicais e monstruosos, aparecerem. E, claro, vão nos causar pânico.

Pense num tal de um aperreio?!!

Algumas vezes vamos precisar de ajuda para "espantar os mortos"; em outras um bom desabafo num ombro amigo, de confiança, e que nos ajude a refletir já resolve.

Mas o importante mesmo é a gente ter consciência de que tudo aquilo que a gente não resolveu vai voltar um dia pedindo solução e ai, cumpadre e cumadre, só vai ter um jeito: encarar o fantasma!!!

No dia que a gente parar de ter medo das nossas "sombras" elas deixam de ter poder sobre nós, sobre o que somos e os nossos comportamentos. Mas, para isso, teremos que conhecê-las porque, "tudo aquilo que conhecemos deixa de nos assustar".

Portanto, se você anda com "muitos mortos assombrando" vá para o contra ataque e jogue muita luz em cima deles: a luz da coragem de conhecê-los e olhá-los, de conversar com eles, de ouvir o que eles têm a lhe dizer, a lhes ensinar. Critique-os, duvide deles, aprenda com eles. E depois de resolvidas "ambas as partes", sepulte-os em definitivo deixando-os "mortinhos da Silva"!!

E no lugar onde eles habitavam plante sementes de otimismo, de auto-amor, de coragem, de confiança; flores de alegria e de prazer. Deixe que a grama da esperança se espalhe pelo local antes mal assombrado e permita que a luz da fé e da certeza se irradie e aqueça todo o ambiente, iluminando-o, assim como o sol faz com a alvorada espantando os últimos vestígios da noite. Verás como sua vida começará a ficar bem melhor, porque você estará melhor por dentro.

Como dizia um tal de Jesus: "deixai os mortos sepultar os seus mortos".

E ai finalmente você vai poder trocar de enredo musical.
Não mais "Sentimento ilhado, morto e amordaçado volta a incomodar".
Mas sim, "Quando um pouco de bom rarear e a vida for escura e ruim. Nunca é tarde pra lembrar, o sol está dentro de mim".
Bjs e bom fim de semana.
Xanda




Comentários

  1. Excelente texto,parabéns!!!Nancy

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  2. Excelente texto, infelizmente recebi através de e-mail sem saber a autoria, gostei muito e repassei para os meus contatos, sem daro os créditos, coisas da internet.Nancy.

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