A noite e o amor, belezas que assustam.

Hoje quando cheguei em casa deparei-me com uma linda imagem: o terraço todo iluminado, com um rastro de luz no chão. Ao chegar à ele, olho para o céu e outra beleza: uma noite azul clara, salpicada de estrelas e tendo acima de minha cabeça uma maravilhosa lua cheia. Fico de tal forma extasiada que minha vontade é de encontrar uma forma de expressão que pudesse retratar o que eu via, mas não acho.

Por mais que eu tente, as palavras sempre serão formas pálidas de descrever a beleza que contemplo no universo. Uma pena!

É, a natureza é muito generosa conosco.
E é interessante como não somos educados para aprender a senti-la, a observá-la.

A noite para muitos é assustadora, causa pânico. O que eles mais querem é que ela acabe, que nasça o dia. As sombras assustam. E nada pior do que o medo, pois ele nos tira a paz, nos entorpece o pensamento, nos deixa exauridos energeticamente pela adrenalina que ele despende em nosso corpo.

Para outros, a noite é um grande mistério a ser desvendado. É o momento de serenidade e calma, de quietude e contemplação. As sombras não assustam, pelo contrário, são amigas, companheiras, parceiras de jornada. Essas pessoas gostam da noite, mesmo com os seus mistérios. Não têm medo de vivê-la.

Refletindo sobre isso, me vem à mente o medo que muitos de nós possuímos de amar.

Deixar-se tomar pelo amor é como a noite, algo misterioso, encantador. Algumas vezes claro, iluminado, reluzente como o cintilar de uma estrela. Em outras, sombrio, frio, assustador. Só de pensar nele, suamos frio, trememos de medo, nos angustiamos. 

Isso se dá pela forma como "o enxergamos".
Pelo fato de termos cometidos diversos enganos em muitas oportunidades ou de termos sido "feridos em nossos sentimentos", alteramos a forma de sentir o ato de amar e nos "armamos" contra qualquer sinal que ele dê de que está "surgindo no pedaço".

É por isso, que muitos fogem, ou pelo menos, pensam que fogem dele.
Na verdade, só adiam algo que pode ser prazeroso, rico em novas experiências e descobertas. Desafiante, sim, afinal, o ato de conviver e amar alguém significa também doar-se e no mundo cada dia mais individualista em que vivemos, isso é, para muitos, uma coisa inadmissível!!

Sabiamente falou o Beto Guedes: "o medo de amar é o medo de ser livre para o que der e vier".

E como é triste viver preso a si mesmo, algemado ao medo, acorrentado ao desamor, sofrendo com o ressecamento do sentir, única e exclusivamente pelo "medo de sofrer". 

E ai, resgato o querido Vinícius de Moraes: "quem já passou por essa vida e não viveu, pode ser mais, mas sabe menos do que eu. Porque na vida só se dá pra quem se deu. Pra quem amou, pra quem chorou, pra quem sofreu. Quem nunca curtiu uma paixão, nunca vai ter nada não..."

Temos medo de amar porque somos muito egoístas, eis, no fundo, a questão.
Queremos certezas de que tudo dará certo, quando elas não existem nunca. Queremos não ter que sofrer "a dor do crescimento" que uma relação nos oferece, com suas conquistas e perdas, aprendizados e decepções. 

É certo que muitas de nossas dores são causadas pela forma equivocada que entendemos o que seja amar. 

Seria mais fácil se pudéssemos entrar numa relação baseados na verdade, no respeito mútuo, na admiração recíproca, na vontade de compartilhar, no companheirismo. Entretanto, ainda estamos naquela de achar que o outro tem a obrigação de suprir todas as nossas carências, necessidades, vontades e desejos. Só que nos esquecemos que o outro pode, também, esperar de nós a mesma coisa. E por isso, construímos relações doentias, que ao invés de nos fazer progredir, nos engessam.

É.
Amar, de fato, ainda não é fácil para nós.
Mas, quem sabe, um dia a gente não use aquilo que mais tememos, justamente como a nossa principal ferramenta de libertação íntima?! E com isso, consigamos nos livrar das amarras que nos infelicitam há tanto tempo?!

Torço sinceramente para que esse dia chegue.


Comentários

  1. gostei muito deste artigo,se houvesse respeito,companherismo,não haveria tantos divorcios.

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