Busque a alegria que mora em você!


E o domingo vai terminando.
Um final de semana que para muita gente significou festa, carnaval, alegria.
Muita gente sorrindo, curtindo, dançando, enfim aproveitando o período.

De fato, não há nada tão fundamental para a vida das pessoas quanto a alegria. Ela é extremamente salutar e auxilia na manutenção da nossa saúde. Gera substâncias benéficas ao nosso organismo, revigora nossas emoções, nossas células. Dá mais leveza à vida.

Mas é desafiante para nós entender que alegria não tem a ver com excessos que usamos para poder "esconder" dores, angústias que nos martirizam o íntimo. Isso é fuga, anestesia, "doping" intencional. Essas formas de alegrias químicas (bebidas, drogas, sexo) são apenas muletas que usamos naquele momento para "aliviar" o que nos vai no íntimo, nos "anestesiar". Porém, passado o porre, o barato ou o tesão o que sobra é apenas a dor.

E não podia ser diferente já que, o que nos vai no íntimo não se resolve com "anestesias", mas com cirurgias necessárias de desobstrução emocional. Por serem doridas, pois em sua maioria não tem como usar analgésico para realizá-las, muitos de nós fugimos e nos escondemos nas atividades rotineiras do dia-a-dia, nas obrigações do trabalho, no "drink para relaxar" que precisa ser ingerido todos os dias para essa finalidade, nas intermináveis carteiras de cigarro, nas baladas e conquistas de final de semana, até nos trabalhos espirituais de domingo a domingo. Tudo isso com um único objetivo: não nos permitir ter tempo para nos sentir e ouvir.

Na nossa sociedade atual todos temos que ser felizes e, claro, demonstrar isso para que todos vejam que nossa vida é perfeita, que somos maravilhosos, belos, talentosos. Mas, por trás de todas as máscaras que envergamos e dos personagens que interpretamos para o mundo, existem seres humanos com dores, culpas, medos, frustrações, desilusões, inseguranças negadas, confinadas aos esconderijos mentais para que não nos causem dor, incômodo.

Adoro uma analogia do Rubem Alves sobre esses nossos "EUs". Ele compara o "interno do Ser" a uma pensão. Nela há o dono (nós em essência) e os seus inquilinos que moram nos diversos quartos (nossos diversos EUs). E pro dono da pensão o bom é que esses moradores fiquem todos nos seus cantos, quietos, reclusos. Há inquilinos ali malvados, alguns egoístas, outros que vivem aprontando besteiras e, outros ainda violentos. Só que de vez em quando um desses moradores resolve sair do quarto e botar a cabeça pra fora, e começa a incomodar ao dono da pensão que não gosta dele, mas que não sabe como se livrar do dito cujo. Pronto, está armada a confusão. O jeito é encontrar uma maneira de trancá-lo de novo. Então vamos dopá-lo, anestesiá-lo, porque assim fica mais fácil escondê-lo novamente no quarto e, também, afastá-lo dos olhos do proprietário da pensão.

É isso o que fazemos com tudo aquilo que vem nos incomodando ao longo dos anos. 
Estamos negando a existência dos sentimentos e emoções e nos tornando refém dos mecanismos que usamos para nos esquecer ou tentar fugir deles. E, sinceramente, ninguém pode ser feliz ou se sentir realmente feliz desse jeito.

Na vida não há como não ter frustrações, que é a reação que temos a algo cujo resultado não foi o que esperávamos. Impossível. Também, pelo nosso nível evolutivo de agora, não estamos isentos de errar, infelizmente. E se formos pensar que ter uma vida feliz é não ter nenhuma dessas duas situações em nossa existência estamos, realmente, construindo uma existência penosa e sofrida. Não é isso que se pede de nós.

"A alegria é aquela certeza interior que a criatura conquista depois de desenvolver algumas habilidades afetivas na escola das provas diárias, insculpindo uma reação consciente e lúcida diante das dores e desafios". *

Quem aprende a se auto perdoar, a gostar de si mesmo com suas imperfeições, descobre a alegria fatalmente porque sabe que pode cair, tropeçar, mas que também tem condições de se levantar e recomeçar. E isso sim é motivo para sentir uma grande alegria porque a vida é cheia de novas oportunidades, de recomeços. 

É com alegria que criamos força para os desafios que fazem parte do nosso roteiro de crescimento, é onde encontramos força para continuar a caminhada sem desistir. É a maneira pela qual passamos a aceitar melhor a realidade que nos cerca, certos de que tudo caminha para o bem daqueles que confiam que sua vida não está entregue nas mãos de qualquer um. 

Quem cria a coragem de se auto olhar, de permitir-se sentir o que lhe vai por dentro, de deixar isso aflorar por mais doloroso que seja, verá que, depois da tormenta, a calmaria chega ao coração. Uma sensação de serenidade, paz, bem estar, que há muito tempo não se sentia começa a tomar conta da pessoa e, fatalmente, isso vai deixá-la alegre e feliz. 

Não mais drogas para fugir. Mas, auto amor e respeito para curtir a si próprio.
Amar-se, amar e ser feliz.

Que nessa semana você possa sentir, nem que seja por breves minutos, a verdadeira alegria e que ela te faça muito feliz. Porque você também merece ser feliz.
Boa semana.

* Citação do livro "Emoções que Curam", de Ermance Dufaux / Wanderley Oliveira

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