Minha companheira: a noite


É madrugada e eu estou sem sono.
Nos últimos dias, a noite me fez companhia. 
A luz do luar ilumina minha sala e banha a cidade que dorme. As luzes dos apartamentos aos poucos se apagam. Reina o silêncio. E eu o aprecio.

Amo o silêncio.
Minha alma tem sede dele. É uma oportunidade única de ouvi-lo.
Nessa última semana tenho preferido as noites ao dia. 
Talvez porque ela vem fazer companhia à minha solitária estadia.
Há uma semana reclusa em casa, sob suspeita da covid, tenho tido apenas a mim como companhia. 
E isso não tem sido ruim.

Ver-me frente a frente com o vírus foi estranho.
Há quase um ano falo dele, mas via-o de longe. Este ano foi diferente.
Já me encontrei cara a cara com ele. E é estranho.
Apesar de uma serenidade de que seria leve e de que eu passaria por ele sem grandes transtornos, foi assustador em alguns momentos estar com ele. 
E nessas horas a gente percebe o quão é solitária a vida do portador do SARS-COV-2.

Interessante também você perceber quem realmente se preocupa com você, quem está do seu lado.
Outra coisa interessante: você descobrir a solidariedade de onde nem imaginava, bem como, descobrir o descaso também, de onde nem pensava.
Momentos como esse são muito bacanas e importantes, porque te ajudam a olhar a vida como ela realmente o é. E a olhar pra si também.
Estar diante de algo que poderia te conduzir a algo mais sério é estranho e desafiador, belo e amedrontador.

E talvez por precisar de paz e serenidade, as noites me fazem companhia nessas duas semanas entocada em casa. 
Nesse momento, tudo está tranquilo, sereno, apenas o som do ventilador é ouvido.
E eu? Eu estou em paz talvez pela primeira vez há muito tempo em minha vida.
Numa calma de quem apenas curte a noite e o silêncio.
Sim, a noite e a lua são minhas companheiras. 
E eu não podia estar melhor acompanhada hoje.

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